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  • Foto do escritorBruno Zocchi

Neurofeedback para o TDAH: tão efetivo quanto a Ritalina? 🤔

Atualizado: 27 de jul. de 2023



Quando se pensa na escolha de uma intervenção para o TDAH, muitos pais e mães logo acreditam que a única opção para seus filhos e filhas é o uso de remédios (a Neuropsicóloga Patrícia Zocchi, inclusive, fala disso nesse vídeo!). Mais do que isso, alguns cuidadores acreditam que será necessário consumir esses remédios pelo resto da vida para ter um funcionamento adequado às demandas da escola, do trabalho e outros ambientes.


No entanto, essa crença, de que seu filho ou filha ficaria dependente do uso da medicação para ter qualidade de vida, não é correta. Pelo contrário, o avanço das neurociências e da tecnologia biomédica fizeram ser possível tratar o TDAH com outras ferramentas, conforme apontam diversas pesquisas e dentro de padrões científicos e metodológicos rigorosos.


O Neurofeedback, como conhecemos, é uma metodologia que une neurociência, psicologia e tecnologia para alterar o padrão de funcionamento elétrico do cérebro e trazer com isso a redução de sintomas e comportamentos indesejados. Pesquisado para o uso no TDAH desde 1972, o Neurofeedback hoje já é considerado uma forma de intervenção eficaz e efetiva para o combate do TDAH em crianças, sendo, inclusive, recomendado pela Academia Americana de Pediatria. Infelizmente, contudo, essa opção de intervenção, o Neurofeedback, ainda é pouco conhecida e pouco propagada pelos profissionais da psiquiatria, que muitas vezes insistem no tratamento medicamentoso.


A partir disso, muitos pais e mães ainda se perguntam e com razão: será que o Neurofeedback será tão efetivo quanto os remédios psiquiátricos no combate aos sintomas do TDAH do meu filho ou filha?


Um estudo publicado em 2003 pelo alemão Thomas Fuchs e outros pesquisadores pode ter uma excelente resposta a esse questionamento. O objetivo da pesquisa era exatamente esse: saber se o Neurofeedback seria tão efetivo quanto medicamentos a base de metilfenidato (como a Ritalina e o Concerta) no combate aos sintomas do TDAH em crianças.


Antes de falar do estudo, vamos lembrar como esses medicamentos funcionam no cérebro. De uma forma resumida, a Ritalina e o Concerta atuam inibindo a recaptação da dopamina disponível aos neurônios do cérebro, fazendo com que esse neurotransmissor permaneça mais tempo disponível para os processos cerebrais. Como a dopamina tem uma importante função na motivação e no modulação de comportamentos, o uso desses medicamentos, então, permitiria que o cérebro se regulasse de uma forma mais adequada e os sintomas típicos do TDAH como a desatenção e a hiperatividade diminuíssem. Infelizmente, no entanto, esses remédios podem trazer duas consequências ruins. A primeira, os efeitos colaterais como ansiedade, insônia e alterações no apetite. A segunda, ainda mais temida, o efeito-rebote, ou seja, a possibilidade de os sintomas regressarem caso o uso do medicamento seja interrompido.


O Neurofeedback pretende atuar de outra forma. Ele utilizará o conceito de ondas cerebrais (o período específico no qual os grupos de neurônios pulsam para que haja a comunicação entre diferentes partes do cérebro) e, a partir da atividade elétrica do cérebro da criança, medida em tempo real por um exame de eletroencefalografia totalmente não-invasivo, será possível gerar estímulos visuais e auditivos que farão com que o cérebro dessa criança funcione mais adequadamente.


Em termos práticos e de forma resumida, o Neurofeedback fará 3 coisas:


1. Identificará em quais momentos e de que modo o cérebro da criança funciona da forma que confere mais bem-estar e performance, ou seja, da melhor forma.


2. A partir dessa identificação, gerará estímulos visuais e auditivos que serão exibidos para a criança (muitas delas até podem escolher o que vão assistir ou ouvir durante os treinos!).


3. Captados pelo cérebro da criança, esses estímulos farão com que o cérebro da criança sempre busque funcionar da mesma forma identificada no item 1, ou seja, a melhor forma possível.


Após um tempo nesse processo de condicionamento que é o Neurofeedback, o cérebro da criança estará apropriadamente condicionado para maximizar o tempo funcionando da melhor forma. Isso fará com que se combata os sintomas do TDAH e haja um maior bem-estar, mais controle e mais concentração na criança.


Voltando ao estudo. Os pesquisadores então queriam descobrir se o Neurofeedback poderia combater os sintomas do TDAH na mesma proporção que remédios à base de metilfenidato, como a Ritalina. Para isso, selecionaram 34 crianças, das quais 22 foram alocadas para receber treinos de Neurofeedback e 12 para receber o tratamento com medicação. Elas foram avaliadas antes e depois da intervenção, que durou 3 meses.


Os resultados foram impressionantes. Os pesquisadores perceberam que não apenas o Neurofeedback foi capaz de combater os sintomas do TDAH tanto nos testes de atenção, quanto na avaliação de pais e professores, como também descobriram que a intervenção com Neurofeedback foi tão efetiva quanto o uso de metilfenidato nas crianças, trazendo percepções de evolução clínica muito semelhantes e sem a incidência dos efeitos secundários e colaterais da medicação.


Os gráficos publicados no estudo podem ser conferidos abaixo. No primeiro, percebe-se considerável melhora nos aspectos de impulsividade, desatenção e tempo de resposta das crianças com TDAH nos dois grupos, com o Neurofeedback comparável ao metilfenidato. No segundo, uma diminuição também comparável entre os grupos nos problemas de comportamento apontados pelos pais e pelos professores.




O que esse estudo concluiu, dessa forma, foi que o Neurofeedback aplicado em crianças com TDAH tem chances muito parecidas, se não semelhantes, de trazer a melhora nos sintomas desse transtorno se comparado ao uso de medicamentos específicos.


Esses resultados com o Neurofeedback para o TDAH nos traz muitas perspectivas. Em primeiro lugar, por podermos contar com uma intervenção neurocientífica, não invasiva e não medicamentosa eficaz e efetiva contra o transtorno. Em segundo lugar, por evitar os efeitos colaterais e rebote que podem estar associados ao uso dos fármacos, algo que pode prejudicar o tratamento. Por fim, por demonstrar que crianças com TDAH não precisam ficar reféns de medicamentos sua vida inteira e podem contar com outras possibilidades para ter bem-estar, performance e qualidade de vida.


O Neurofeedback, inclusive, já conta com pesquisas demonstrando a manutenção dos resultados obtidos mesmo após anos e anos do término da intervenção, mas isso é assunto para um outro texto...


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Texto revisado pela Neuropsicóloga Patrícia Zocchi

CRP: 06/77641


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