O Transtorno de Compulsão Alimentar, ou TCA, é caracterizado por provocar episódios de ingestão de uma grande quantidade de comida mesmo contra a vontade da pessoa, que sente que perdeu o controle. Diferentemente de outros transtornos, o TCA não é acompanhado por atitudes compensatórias como indução de vômito ou uso de laxantes. Ele ocorre em torno de 1 a cada 30 mulheres e 1 a cada 50 homens. Isso faz com que praticamente 3% da população sofra com esse transtorno. Quando pensamos em pessoas com obesidade, esse número pode chegar a mais de 20%.
O tratamento para esse transtorno é feito, geralmente, por meio da Terapia Cognitivo-Comportamental e conta com bons índices de remissão, ou seja, desaparecimento dos sintomas, ali na casa dos 50% dos casos.
Mas em outubro de 2021 foi publicado um estudo que utilizou outra ferramenta para tentar diminuir os sintomas do TCA. Essa ferramenta se chama Neurofeedback e os resultados que ela atingiu foram muito animadores.
Lembrando que o Neurofeedback é uma metodologia que busca alterar o padrão de funcionamento cerebral que une neurociência, psicologia e tecnologia
A pesquisadora alemã Maria Blume, junto com outros pesquisadores, percebeu que estudos anteriores relatavam alterações no funcionamento cerebral de pessoas com TCA, principalmente por um excesso de ondas rápidas na região frontal do cérebro, o nosso centro de controle e de tomada de decisão, principalmente quando eram mostradas fotos de comida, ou seja, essas ondas representavam, de fato, a ativação de um gatilho. Além disso, outros estudos também mostravam que populações com alguns comportamentos de compulsão alimentar, mas sem o diagnóstico do transtorno, haviam diminuído a ocorrência desses comportamentos após o uso do Neurofeedback.
A pesquisadora então fez o seguinte: selecionou 38 pessoas com o diagnóstico de Transtorno de Compulsão Alimentar e separou em 2 grupos que receberiam duas modalidades diferentes de Neurofeedback (eu não vou me aprofundar na diferença dessas modalidades aqui, mas se você estiver interessado em saber sobre isso, é só me escrever!). O objetivo era saber se essas pessoas realmente conseguiriam diminuir a incidência das ondas rápidas na região frontal do cérebro e se isso combateria os sintomas do TCA.
Bom, a partir disso, todos os 38 participantes passaram por 6 semanas de treinamentos com Neurofeedback e a atividade elétrica do cérebro deles foi medida antes e depois do treinamento.
No final dessas 6 semanas, vieram os resultados. Não só a pesquisadora percebeu que era sim possível alterar o padrão elétrico do cérebro com o uso do Neurofeedback, diminuindo esses "desbalanços" mais associados com a presença de ondas mais rápidas no lobo frontal, como, ao todo, dessas 38 pessoas, 15 entraram em remissão, ou seja, não apresentaram mais os sintomas do Transtorno de Compulsão Alimentar, uma taxa de 40%, aproximadamente, ou seja, comparável com os resultados obtidos em uma intervenção com a Terapia Cognitivo-Comportamental.
Além disso, também foi percebida uma considerável melhora tanto no processo de tomada de decisão, quanto de flexibilidade mental de parte dos participantes do estudo. E todos eles passaram pelo treinamento sem nenhuma queixa quanto à sua aplicabilidade e sem apresentar nenhum incômodo ou efeito colateral.
É claro que esse estudo é recente e a comunidade científica e inclusive eu espero que outras pesquisas sejam geradas a partir dele. Com maiores números de participantes, mais semanas de acompanhamento, mais grupos de controle... Mas é claro que ver isso já é bastante animador para quem trabalha com saúde mental e deseja oferecer uma boa intervenção aos seus clientes e pacientes.
Deixo abaixo o link para o estudo na íntegra:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34931276/
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Texto revisado pela Neuropsicóloga Patrícia Zocchi
CRP: 06/77641
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