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Foto do escritorBruno Zocchi

Dia Mundial do TDAH - Como a neurociência e a tecnologia podem auxiliar no combate aos sintomas?

Atualizado: 27 de jul. de 2023



Dia 13 de julho é o Dia Mundial do TDAH. Em virtude dos mais de 2 milhões de brasileiros com o transtorno, quase 1% de toda a população, essa data foi criada para aumentar a conscientização das pessoas acerca do transtorno e para fomentar a busca de tratamentos e intervenções adequadas para combater os sintomas típicos do TDAH, como a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade.


O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), segundo o DSM-V, é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta sobretudo crianças do sexo masculino. A proporção é de quase 4 meninos para cada menina diagnosticada. Os sintomas, como apontado, são característicos: dificuldade em prestar atenção por longos períodos de tempo e nos detalhes; dificuldade de se organizar e tendência a procrastinação; perda de objetos; inquietação e dificuldade em manter-se parado e relaxado; dificuldade de trabalhar de forma independente; dificuldade de terminar tarefas; tendência a tomar decisões impulsivas, entre outros!


É claro que todos esses sintomas, quando não tratados, podem representar um grande prejuízo à saúde e à vida daqueles que têm o transtorno. Vamos lembrar que esses sintomas aparecem por que o funcionamento do cérebro da pessoa com TDAH faz com que ela seja assim. Por ser um transtorno do neurodesenvolvimento, o TDAH vai impactar diretamente no funcionamento químico e elétrico do cérebro da pessoa e vai ser responsável por fazer esse cérebro trabalhar de forma atípica e muitas vezes não funcional, contribuindo para os sintomas citados.


No caso de crianças, as mais diagnosticadas com o transtorno, o problema geralmente surge quando se começa a frequentar a escola. Reclamações de professores surgem, as notas caem e os pais se perguntam: como posso ajudar meu filho a combater esses sintomas e ter mais qualidade de vida?


Atualmente, a maior parte das pessoas com TDAH opta por um tratamento farmacológico com o uso de remédios como Venvanse (Lisdexanfetamina), Ritalina, Concerta (ambos Metilfenidato) e outros medicamentos que trabalham ativando o cérebro do indivíduo e fazendo com que os neurotransmissores estimulantes, como a dopamina, permaneçam mais tempo na fenda sináptica para serem utilizados pelo cérebro. Dessa forma, os sintomas como a desatenção e a hiperatividade são combatidos.


Muitas vezes, optar pelo tratamento farmacológico faz muito sentido! No entanto, é crescente a porção de mães e pais que desejam buscar outras alternativas para o tratamento de seu filho ou filha. Isso ocorre principalmente por dois motivos.


O primeiro é que os remédios podem não ser efetivos para todos os pacientes com TDAH. Na verdade, existem subgrupos de TDAH nos quais o remédio pode causar ainda mais mal do que bem! Por serem estimulantes do sistema nervoso central, os remédios não poderão agir de outra forma senão estimulando o cérebro do paciente. Entretanto, hoje se sabe que nem todos os cérebros com TDAH necessitam de estimulação. Pelo contrário, alguns deles manifestam sintomas também por estarem já muito ativados!


O segundo motivo diz respeito aos efeitos colaterais da medicação e o medo do efeito rebote quando se interrompe o uso dela. Ou seja, para além dos possíveis efeitos secundários de desconforto como dores de cabeça, dificuldades para dormir, alterações no apetite e outros que podem surgir, em muitos casos a pessoa que faz uso de medicação para TDAH, quando para de tomar o remédio, percebe seus sintomas voltando na mesma intensidade. Não há aprendizado para o cérebro e cria-se uma dependência do uso do fármaco para buscar um funcionamento adequado e que permita que a pessoa estude, trabalhe, vá a um evento social, etc.


Apesar dessas questões que preocupam muitos pais, hoje já se conhecem alternativas ao uso da medicação para tratar os sintomas do TDAH, sobretudo em crianças. Os avanços das neurociências e da tecnologia biomédica tornaram possível intervir diretamente no cérebro de pessoas com TDAH de forma não invasiva e não medicamentosa para combater os sintomas do transtorno e conferir maior performance a essas pessoas.


Estamos falando das metodologias de neuromodulação, sobretudo o Neurofeedback por EEG, que, inclusive, é recomendado como primeira intervenção para crianças com TDAH pela Associação Americana de Pediatria desde 2012.


A intervenção com Neurofeedback funciona da seguinte forma: sensores de EEG (eletroencefalografia) posicionados na cabeça da criança mapeiam a atividade elétrica do seu cérebro e, a partir disso, um software de computador passa a oferecer estímulos visuais e auditivos que fazem com que o cérebro dela funcione dentro do padrão que oferece mais bem-estar e performance, como o aumento da capacidade de foco e de controle corporal. Como já dito, tudo isso ainda é feito de uma forma não invasiva e não medicamentosa.


Em outros termos, o Neurofeedback é uma técnica que permite, dentro de uma média de 30 a 60 sessões (a depender do caso), identificar de que forma o cérebro da criança funciona melhor e estimular esse cérebro a funcionar dessa forma durante mais tempo no dia, na semana e mais. É justamente assim que serão combatidos sintomas típicos do TDAH, como os de desatenção, hiperatividade, inquietude, impulsividade, entre outros. Estudos ainda apontam que os resultados de uma intervenção com Neurofeedback podem durar por anos a fio e fazer com que essa criança torne-se um adulto com possibilidade de atingir uma boa performance em processos de vestibulares ou concursos e ainda dentro de sua vida profissional.


Finalmente, é importante trazer luz a um fato importante: a efetividade do Neurofeedback na intervenção para o TDAH.


O Neurofeedack no tratamento dos sintomas do TDAH é pesquisado desde 1976, com a publicação de Joel Lubar atestando a diminuição dos sintomas de desatenção e hiperatividade após intervenção com o uso da metodologia. Desde então, muito se pesquisou e se otimizou até o Neurofeedback ser alçado à categoria de evidência nível 5, ou seja, eficaz e efetivo na intervenção para o TDAH.


Estudos recentes inclusive demonstram que os efeitos de uma intervenção com Neurofeedback para crianças com TDAH são comparáveis ou até superiores aos efeitos de uma intervenção com o uso de remédios à base de metilfenidato e mesmo da psicoterapia. Mais do que isso, a união dessas diferentes formas de intervenção pode fazer com que a evolução da criança seja ainda mais marcada.


Você pode encontrar mais artigos falando sobre a efetividade do Neurofeedback para o TDAH e outras condições também lendo nossa matéria "Neurofeedback é ciência ou 'Neurofuleiragem'?".


Com isso em vista, é muito bom saber que o mundo tem avançado de forma a oferecer mais alternativas para as pessoas que lidam com o diagnóstico de TDAH. Tanto na conscientização de pais, mães, profissionais da saúde e da educação no manejo do transtorno, quanto no oferecimento de outras modalidades de intervenção que se utilizem das neurociências e de alta tecnologia. Isso certamente maximiza as perspectivas de bem-estar e de qualidade de vida para pessoas com TDAH.


E que o dia 13 de julho seja para celebrarmos isso e continuarmos a desenvolver ações para trazer mais conforto e potencialidades a toda essa parcela da população!


Texto revisado pela Neuropsicóloga Patrícia Zocchi

CRP: 06/77641


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